Vítimas do Titanic: um século depois, Líbano homenageia filhos perdidos.


 





 


 


16/08/2012 – Um grupo de 116 passageiros estava a bordo do mal-fadado Titanic, quando ele encontrou seu trágico destino em 10 de abril de 1912. Eram imprecisamente identificados como “turcos”, denominação dada a pessoas sob o domínio do decadente Império Otomano, área que hoje compreende Líbano, Síria e Palestina.


Com o apoio da Associação Mundial da Herança Libanesa, uma pesquisa apurada foi conduzida pela Fundação Cultural Líbano-Irlandesa para determinar a origem libanesa das vítimas, a partir da qual uma lista de nomes foi oficialmente composta e ratificada.


Em 16 de agosto de 2012, sob os auspícios da Universidade Notre Dame de Louaize, em parceria com Guita Hourani, diretora do LERC (Centro de Pesquisa da Emigração Libanesa), Guy Younes, presidente da Fundação Cultural Líbano-Irlandesa e com o doutor Nick Kahwagi, presidente da União Cultural Libanesa de Vancouver, uma lápide inscrita com os nomes dos náufragos libaneses do Titanic foi descerrada em sua homenagem, no centenário da tragédia que desde então vive na imaginação de gente do mundo inteiro.


Cerca de 1.500 pessoas perderam a vida no naufrágio do Titanic. É difícil se saber ao certo quantos desses passageiros eram libaneses, Michel Karam, historiador e jornalista libanês, endossa o entendimento de que o número de seus compatriotas supera o que se pensava a princípio, devido a discrepâncias com o manifesto original. Neste, nomes libaneses são escritos de maneira fonética, ao invés de extraídos dos documentos devidos. Eis a razão de sermos até hoje incapazes de estabelecer o registro exato, pelas omissões e desconhecimento da lista original.


Não obstante, existem até o presente 116 pessoas a bordo oficialmente identificadas como libanesas, das quais apenas 53 sobreviveram. Resgatadas pelo navio Carpathia, elas viveram para compartilhar histórias pessoais de terror, já que testemunharam o afogamento de famílias inteiras, à medida que o navio afundava vagarosamente nas águas escuras e profundas do Oceano Atlântico.


Dos 899 tripulantes do Titanic, pelo menos um era libanês, Ibrahim Mansour Meshaalani. Meshaalani, também cidadão britânico, nasceu no Líbano em 1860 e era responsável pela gráfica do vapor, onde cardápios e etiquetas de mesas eram impressos. Ele se ocupava igualmente das circulares aos passageiros com a programação do dia. O marinheiro pereceu na tragédia, antes da qual as mais animadas festas foram relatadas, incluindo três casamentos durante o trajeto.


A missão de rastrear as vítimas libanesas teve início com o jornal al-Anwar. Em 1998 o jornal publicou matéria com a correspondência entre libaneses expatriados nos Estados Unidos e suas famílias na terra natal. O material continha nomes e informações sobre os passageiros libaneses do Titanic.


Os libaneses (116) compunham o quarto maior grupo registrado, depois de britânicos (327), americano (306) e irlandês (120). A prova de sua existência não reside em sua documentação de viagem, já que portavam identificação otomana, mas no fato de serem originários de localidades que mantêm até hoje os mesmos nomes no Líbano.



Várias técnicas foram utilizadas para verificar, comprovar e confirmar evidências, estabelecendo assim a identidade libanesa dessas pessoas. O resultado de um longo trabalho foi uma lista detalhada de nomes e suas respectivas origens. A pesquisa foi validada pelo Centro de Pesquisa da Emigração Libanesa e pela União Cultural Mundial Libanesa de Vancouver, instituições que deverão inscrever a lista em todos os museus do Titanic ao redor do mundo.


Entre os muitos presentes à cerimônia de descerramento da placa comemorativa, em Louaize, Líbano, encontrava-se o neto de um dos passageiros, cuja morte deixou seis órfãos e uma viúva à própria sorte no Líbano. Ele contou relatos de sobreviventes sobre as condições em que se encontravam os libaneses que, a caminho da morte dançavam o hafle, ritual praticado em funerais no Monte Líbano.


A placa comemorativa tem duplo objetivo; honrar não apenas os passageiros cujas vidas foram perdidas, mas também a tragédia que foi igualmente emblemática para milhões de libaneses que embarcaram naquele e em muitos outros navios, em busca de uma vida melhor e mais segura, em outro lugar. Muitos não alcançaram seu objetivo, nem suas histórias foram registradas.


O evento também ofereceu a oportunidade de se homenagear a diáspora libanesa em todo o mundo, em seu sofrimento ou sucesso ao longo de séculos, além do preço de se deixar a terra-mãe, pelo que esperavam ser um destino melhor.


Elsa El Hachem


especial de Byblos, Líbano

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